sexta-feira, 23 de março de 2012

Profissão de fé

Invejo o ouvires quando escrevo:
Imito o amor.
Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre, desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase, e, enfim, No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofes cristalina.
Dobrada ao jeito.
Do ouvires, saia da oficina,
Sem um defeito.

E que o lavor do verso, acaso,
Por tão sutil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
de Becerril

E horas sem conta passo, mudo,
O olhar atento.
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento

Porque o escrever - tanta perícia
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer

Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena
Serena forma.

(Olavo Bilac. Poesia. Rio de Janeiro. Agir, 1957. p. 39-40)
Por: Amanda Vital

2 comentários:

  1. Poesia parnasiaanaa... geeeeeeeeente... se superou. A_M_E_I

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  2. Esse é o meu favorito, fala muito sobre o amor pela poesia, o ato de escrever em si. Olavo é mara!! :DDD

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